quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tempestade

E, mais uma vez, o céu encheu-se de nuvens, o vento assobiou descomunalmente, as árvores fantasmagóricas esbracejaram ao som das folhas arrastadas.

A tempestade era, de cada vez que aparecia, mais intensa, mais robusta e exigente.

Nos tempos em que apenas ameaçava, ainda permitia a inexistência de um bom impermeável acompanhado de um simples chapéu-de-chuva.

O tempo, como Ser independente, seguiu a sua constante contagem, sem olhar a meios. E, lado a lado, andava com o frio, com a incerteza pluvial, com as poças de água que, outrora, seriam apenas mossas e depressões no solo.

O tempo foi sempre responsável, sempre cumpriu a sua escala, nunca faltou uma hora nem chegou alguma vez atrasado. Porém, o Inverno cerrado abriu uma falha no ciclo e corrompeu tudo o que se lhe atravessasse.

A chuva passou a granizo; a aragem metamorfoseou-se em ventania, em vendaval descontrolado; a terra virou lama; o sol escondeu-se; e o horizonte, o horizonte já não era horizonte; era, sim, abismo.


O chapéu não suportava toda a intensidade e arqueava. Arqueava até virar. O casaco deixou de ser "à prova de água" e ensopou-se à primeira gota.

A minha natureza perdeu as estribeiras e já não tem agora qualquer sentido...

1 comentário:

  1. És tudo o que desejei... Sou feliz por tudo o que fazes... sou um abençoado.

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