O sol encandeava-me a vista e preocupava seriamente o meu subconsciente. Estava meio perdido na arena recheada de tantos outros como eu, envolto numa nuvem colorida imensa e vasta salpicada de pontinhos pretos. Apenas tinha certeza de que o que via e descrevia naquele momento não era totalmente fiável e certo.
Ouvi o meu número (o número colado à camisola que vestia), enquanto me escorria uma gota "nojentérrima" e salgada de suor pela face esquerda abaixo que me foi embelezar o ombro por acção da força gravítica.
Uns vultos também reagiram à chamada e acabaram por fazer mais ou menos o mesmo percurso, variando um pouco para a direita, para trás ou até mesmo diagonalmente.
Continuando com a pálida paisagem em volta, apenas se podia confiar no sentido mais racional e necessário naquele momento. A visão foi desqualificada por falta de comparência; o tacto era um sentido estupidamente utilizado, uma vez que não andaria de gatas a apalpar o asfalto; o paladar estava, naquele momento, um pouco adulterado com a sandes de atum inválido que comera ao pseudo-almoço; o olfacto era ligeiramente suspeito em tempo frio e "enranhosado"; só restava a audição que conseguia, minimamente e no meio do infernal ruído de fundo, orientar um sujeito.
Assim, ouviram-se quaisquer coisas balbuciadas entre dentes, seguindo-se um estalo que, supostamente, seria seco e estrondoso.
Ao sinal, todos os vultos perdidos ganharam vida intuitiva, tentando apenas não chocarem com o fantasma vizinho.
A esta altura, as etiquetas indicativas de cada um já só se seguravam por uma das extremidades quase coladas a cuspo; as gotículas de água salgada tornaram-se rios a metro; as mãos, pés e pernas adquiriram movimento centrífugo; e a meta tornou-se turvamente mais nítida.
Momento único, vencer e cortar a meta, mas a claridade do luminoso nosso astro impossibilitou qualquer observação de chegada.