quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Não deixa bilhete, não...

A escuridão não avisa nem prepara,
Ataca sem piedade.

Ninguém a espera e aceita,
Conforma-se com ela.

Traz amargura e desespero,
Não deixa abraço apertado.

Suportamo-la com dor e a medo,
Longe de força e coragem.

Todos se unem,
Muitos se vão.

Ela vem e não deixa bilhete.
Não o deixa mesmo, não...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sem razão de Vida...

A Vida foi passando, de mãos dadas comigo, sorrindo e amparando-me quando necessário...

A Vida não me abandonou nunca, não me rasteirou por malícia, nem falou mal de mim quando isso lhe era admitido; nunca o fez por existir de facto, por eu lhe ter atribuído uma razão, lhe delineado um fim...

A todo o momento me senti acompanhada e consegui manter tudo o que me era imprescindível... Mas, agora, agora fugiu-me tudo num ápice, por minha culpa e por culpa da puta minha Vida. Abandonou-me, sacudiu as mãos e deixou-me cair só. Só como nunca estive, ausente de mim mesma, sombreada pelo meu corpo, meu mesmo corpo.

Não sei onde, como, quando, em que ocasião nem se sequer encontrarei nova razão para passar a presente, desligar do ausente e viver por fim.


Mais importante que tudo, não conheço Vida para além desta que me deixou...

Espero por algo, mas não sei bem pelo que é suposto esperar...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Até à meta

O sol encandeava-me a vista e preocupava seriamente o meu subconsciente. Estava meio perdido na arena recheada de tantos outros como eu, envolto numa nuvem colorida imensa e vasta salpicada de pontinhos pretos. Apenas tinha certeza de que o que via e descrevia naquele momento não era totalmente fiável e certo.

Ouvi o meu número (o número colado à camisola que vestia), enquanto me escorria uma gota "nojentérrima" e salgada de suor pela face esquerda abaixo que me foi embelezar o ombro por acção da força gravítica.

Uns vultos também reagiram à chamada e acabaram por fazer mais ou menos o mesmo percurso, variando um pouco para a direita, para trás ou até mesmo diagonalmente.

Continuando com a pálida paisagem em volta, apenas se podia confiar no sentido mais racional e necessário naquele momento. A visão foi desqualificada por falta de comparência; o tacto era um sentido estupidamente utilizado, uma vez que não andaria de gatas a apalpar o asfalto; o paladar estava, naquele momento, um pouco adulterado com a sandes de atum inválido que comera ao pseudo-almoço; o olfacto era ligeiramente suspeito em tempo frio e "enranhosado"; só restava a audição que conseguia, minimamente e no meio do infernal ruído de fundo, orientar um sujeito.

Assim, ouviram-se quaisquer coisas balbuciadas entre dentes, seguindo-se um estalo que, supostamente, seria seco e estrondoso.

Ao sinal, todos os vultos perdidos ganharam vida intuitiva, tentando apenas não chocarem com o fantasma vizinho.

A esta altura, as etiquetas indicativas de cada um já só se seguravam por uma das extremidades quase coladas a cuspo; as gotículas de água salgada tornaram-se rios a metro; as mãos, pés e pernas adquiriram movimento centrífugo; e a meta tornou-se turvamente mais nítida.


Momento único, vencer e cortar a meta, mas a claridade do luminoso nosso astro impossibilitou qualquer observação de chegada.